O que as instituições públicas e as associações de classe podem fazer para que as metas previstas de economia de energia e redução de demanda se realizem e envolvam agentes privados ainda pouco empenhados em investir em eficiência energética são algumas das questões abordadas em um estudo pioneiro liderado pelo Procobre (Instituto Brasileiro do Cobre) e pelo Excen (Centro de Excelência em Eficiência Energética) da Unifei (Universidade Federal de Itajubá), com o apoio do MME (Ministério das Minas e Energia).
A pesquisa revela não só as iniciativas e possibilidades de cooperação e sinergia em eficiência energética conduzidas por diferentes instituições no país – atualmente, de cerca de 80 ações – mas também a oportunidade de uma maior articulação dos organismos na hora de desenvolver atividades de consumo consciente do insumo energético, o que é tido como principal obstáculo para que a eficiência energética entre na agenda do setor produtivo.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores do Excen, professores Jamil Haddad e Luiz Augusto Horta Nogueira, contam que foi necessário elaborar uma lista das atividades em eficiência energética associadas a uma ou mais instituições pesquisadas, relacionando essas iniciativas quanto aos usos finais, à existência de atividades transversais de treinamento ou capacitação, gestão energética e às ações de marketing, entre outros parâmetros considerados.
“Nos últimos anos, construímos uma boa estrutura de ações e programas de eficiência energética e definimos alguns instrumentos legais e regulatórios – etiquetagem, programas nacionais de conservação como o Procel, o PEE (Programa de Eficiência Energética) das distribuidoras, programa de índices mínimos de eficiência energética, Plano Decenal de Expansão de Energia 2026, Plano Nacional de Energia 2030 e o Plano Nacional de Energia 2050 –, mas o país ainda é carente – entre outras ações – de uma base de dados compartilhada, alimentada sistematicamente com informações confiáveis para avaliação dos progressos alcançados e ajuste do potencial de conservação de energia”, alerta Haddad.
Para o diretor executivo do Procobre, Glycon Garcia, as iniciativas de eficiência energética também não podem renunciar aos mecanismos de gestão, à troca de informações, articulação e coordenação. “Deve-se buscar sinergia nas iniciativas de eficiência energética que apresentam semelhanças e complementariedades. A execução das ações pode ser desempenhada de forma descentralizada e por vários agentes, mas os resultados precisam ser mensurados e monitorados periodicamente para que sua permanência seja justificada e isso resulte em uma base de dados legítima”, salienta Garcia.
O estudo, em sua primeira etapa, revisita todas as iniciativas de eficiência energética em curso desenvolvidas no país por ministérios e instituições públicas, um tema essencial para a competitividade e sustentabilidade do Brasil. A partir das atividades identificadas, são propostas 1) ações de caráter compulsório e abrangente e 2) ações de caráter voluntário e restritivo, sugerindo algumas diretrizes como a manutenção e integração dos atuais programas e ações de eficiência energética e o desenvolvimento de uma base de dados compartilhada. A isso, são apresentados nove projetos para o avanço da eficiência energética no Brasil.
Nesse sentido, o estudo propõe a elaboração de um projeto piloto em algum setor industrial que possibilite reunir e analisar os dados e informações possíveis de serem disponibilizados para, em seguida, compartilhá-los. Em uma etapa posterior, haveria separação das iniciativas sob o ponto de vista setorial, possibilitando estudos específicos, perspectivas tecnológicas e subsídios à estimativa do potencial de eficiência do uso da energia em segmentos industriais como a cadeia do alumínio (bauxita, alumina e alumínio); celulose e papel; cadeia siderúrgica; cerâmica; alimentos e bebidas; e química (petroquímica, gás-química, alcoolquímica, fertilizantes e sodacloro).
A etapa seguinte trata de uma modelagem de um sistema de informações com indicadores para o setor industrial, com detalhamento das informações disponibilizadas anualmente pelo Balanço Energético Nacional, com estatísticas que permitam comparações – benchmarking – entre as empresas e frente ao contexto internacional, e a avaliação de consumos específicos de referência, como a “Best Available Technology” e a inferência de potenciais de economia de energia.
As recomendações também abrangem a permanência das principais fontes de financiamento dos projetos de eficiência energética já existentes; a expansão da geração distribuída sem prescindir das mudanças de natureza tecnológica como a forma de contratação de energia e a continuidade de programas de conscientização das pessoas sobre o uso racional do insumo energético.
“A eficiência energética em indústrias, mediante tecnologias e práticas operacionais corretas, incrementa sua competitividade e atenua impactos ambientais. Observando a experiência dos países industrializados, é possível reforçar as ações governamentais de fomento à eficiência energética, coletando e difundindo informações que indiquem potenciais e prioridades e estimulem a redução das perdas de energia”, afirma Horta.
Os resultados obtidos com a experimentação dos projetos em subsetores poderão subsidiar medidas similares a serem adotadas progressivamente em toda a indústria brasileira, permitindo efetuar comparações consistentes no setor produtivo, definir metas de desempenho energético e implantar o monitoramento dos resultados.
Fonte: Procel Info