A indústria brasileira, de maneira geral, tem ampliado o interesse pelo uso racional de energia, de olho na sustentabilidade e, principalmente, no bolso. Pouco mais de quatro anos após o lançamento da norma ISO 50.001, voltada para a gestão e o uso eficiente de energia, pelo menos 23 empresas brasileiras já obtiveram o certificado internacional, sendo a maioria delas pequenas e médias indústrias.
“A princípio, parece pouco, mas quando se compara com o grau de penetração no mercado das ISOs 9.001 [de segurança] e 14.001 [gestão ambiental], percebe-se que ela [ISO 50.001] está com penetração mais rápida”, afirma George Soares, gerente da Assessoria Corporativa e de Novos Negócios em Eficiência Energética da Eletrobras.
Segundo ele, a expectativa é que, na prática, o número de empresas que adotaram o padrão estabelecido pela ISO seja maior do que o oficial. Isso porque, na página da International Organization for Standardization (ISO), só constam as empresas que passaram por uma certificação oficial. Mas a norma permite que a companhia adote o procedimento sem registrá-lo com uma certificadora.
A Aneel lançou projeto prioritário de eficiência energética voltado à substituição de motores elétricos na indústria
De acordo com Soares, a estimativa é que a adoção da norma gere uma economia de energia de 10% a 20%. “Isso reforça a ideia de que é uma certificação que se paga”. Além disso, a norma permite que a empresa mantenha o ganho energético no longo prazo, evitando um problema comum na indústria: a retomada gradativa da ineficiência anos depois da implantação de um projeto do tipo.
Mas outro dado chama atenção: praticamente nenhuma grande consumidora de energia já obteve a certificação internacional.
A constatação reflete dado observado pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). Enquanto a produção industrial caiu 6,3% no acumulado do primeiro semestre deste ano, o consumo de energia do segmento recuou com menor intensidade no mesmo período. De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo de energia de janeiro a junho deste ano do setor industrial foi de 85.883 gigawatt-hora (GWh), com queda de 4,2%.
“Um dos problemas é que as pessoas não percebem que vale a pena investir em eficiência energética para acabar com o desperdício. Elas não sabem que o ‘pay-back’ [tempo para retorno do investimento] dos projetos é pequeno”, explica o presidente da Abesco, Rodrigo Aguiar.
A entidade tem se reunido com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) para encontrar soluções para linhas de financiamento. Entre as medidas, estuda-se parceria com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), para ampliar o número de agentes financeiros participantes do processo na modalidade indireta.
Nessa linha, em setembro a Aneel lançou projeto prioritário de eficiência energética voltado à substituição de motores elétricos na indústria. Estudo desenvolvido pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), em parceria com o Centro Técnico Científico da PUC-Rio, concluiu que há desperdício de 7 milhões de megawatts-hora/ano (MWh/ano) no Brasil, devido ao uso de motores industriais recondicionados. O volume equivale a quase o consumo de todas as residências da região Norte.
Segundo Glycon Garcia, chefe do programa de energia sustentável para a América Latina da Associação Internacional do Cobre (ICA, na sigla em inglês), o plano da Aneel é estimular, por meio dos recursos do programa compulsório de eficiência energética das concessionárias, a troca dos motores elétricos na indústria.
O Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre) diz que os motores de alto rendimento, que utilizam 20% mais cobre em sua composição, em relação aos antigos, permitem economia de 40% no gasto energético. A substituição do equipamento reduz em 42% da emissão de gases do efeito estufa.
O programa da Aneel é inspirado em ações já desenvolvidas por algumas concessionárias, de forma isolada. É o caso do programa “Indústria Eficiente”, da catarinense Celesc, no qual a empresa assinou contratos de financiamento, a custo zero, com três empresas – Tigre, BRF Brasil e Tupy – para execução de cinco projetos que, em linhas gerais, substituíam os motores de baixo rendimento por equipamentos mais eficientes.
Na fabricante de tubos e conexões Tigre o projeto resultou em economia de 5,3 mil MWh/ano, ou 11,17% do consumo anual. Na BRF Brasil, do ramo alimentício, o ganho foi de 8,7 mil MWh/ano, equivalente a um mês de consumo na unidade de Chapecó, com economia anual de R$ 500 mil. E, na metalúrgica Tupy, uma das maiores consumidoras de energia do Estado, a redução de energia foi de 10,6 mil MWh/ano, o equivalente ao consumo de cerca de 4,3 mil residências no mesmo período.
Fonte: Valor Econômico
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