A Gestão de Ativos tem sido um tema recorrente no Brasil, principalmente depois da publicação da Norma ABNT NBR ISO 55000/1/2. Justamente por conta deste cenário, o Portal Leonardo Energy tem trazido diversos materiais sobre o tema (veja em Iniciativas – Gestão de Ativos). E para tirar muitas dúvidas que tem surgido, entrevistamos a Engenheira Marisa Zampolli, especialista em gestão de ativos, secretária executiva da comissão nacional ABNT CEE 251 de Gestão de Ativos.
1 – Como você descreve o conceito de gestão de ativos?
Gestão de ativos é, segundo as normas, a ação coordenada de uma organização para realizar valor com seus ativos. A gestão de ativos representa uma mudança cultural no planejamento estratégico das empresas que adicionam à tradicional visão sobre produtos e clientes à visão dos ativos e do valor que estes são capazes de gerar ao negócio.
Para as empresas que se dispõem a buscar padrões internacionais de desempenho dentro de mercados competitivos, a gestão de ativos traz, a partir do contexto da organização, uma nova proposta de realização dos objetivos estratégicos, integrando todas as áreas da empresa de forma que cada uma delas reconheça o seu papel e sua responsabilidade na obtenção de valor através dos ativos da organização.
Costumamos dizer que a gestão de ativos marca o início de uma nova era na administração de empresas, algo a ser praticado por quem busca excelência nos negócios. A gestão de ativos não se limita ao gerenciamento de ativos, mas transcende a barreira dos limites operacionais para influenciar nas estratégias do negócio. Praticar a gestão de ativos de acordo com as normas significa ter um padrão internacional para obter valor através do uso dos ativos de forma a obter o equilíbrio do desempenho, dos custos envolvidos e dos riscos associados.
2 – Porque e como surgiu este conceito?
Este conceito surgiu inicialmente na área financeira, mas aos poucos ele começou a ser aplicado na Europa, mas especificamente no Reino Unido após algumas grandes perdas em empresas de óleo e gás, como foi o acidente com a Piper Alpha.
A Piper Alpha era uma plataforma de produção de petróleo do Mar do Norte operada pela Occidental Petroleum Ltd. e a Texaco que era proprietária de 22% das ações. Uma explosão seguida de um incêndio a destruiu em 6 de julho de 1988, matando 167 pessoas. Somente 62 membros da tripulação sobreviveram.
Foi a maior perda patrimonial de uma empresa segundo o estudo “The 100 Larges Losses 1974-2013”, além das 167 pessoas que perderam a vida, a empresa teve um prejuízo equivalente a 1,810 milhões de dólares somente com os danos materiais. Alguns cálculos indicam que 20% da produção anual de energia do Reino Unido foi consumido na explosão e incêndio.
Depois deste acidente, análises de Riscos passaram a ser obrigatórias para todas as atividades. O processo de elaboração de análise de riscos é, em si, um forte fator de segurança, pois obriga a todos a pensarem em tudo o que poderia dar errado e a buscar formas seguras de fazer o trabalho. Como consequência deste acidente, medidas foram tomadas por parte do governo e das empresas envolvidas, entre as principais medidas podemos citar:
- Regulamentação da atividade OFF-SHORE;
- Reavaliação e melhorias nos sistemas de segurança;
- Reavaliação, melhorias e critérios mais rigorosos no projeto e construção de plataformas;
- Inserção e melhorias de dispositivos de proteção contra fumaça, fogo e explosão;
- Reavaliação e implantação de facilidades para evacuação, fuga e resgate.
A partir deste fato, as empresas passaram a questionar sua forma de gestão e as implicações nos seus ativos e como estes ativos interferiam na gestão de negócio. As empresas passaram a relatar suas boas práticas e conjunto com outras empresas de infraestrutura resolveram escrever como diretrizes do BSI um documento para ser divulgado no Reino Unido, surgindo assim o documento público PAS-55 que foi a primeira referência publicada em 2004.
Em 2010 iniciou-se as atividades do TC 251 da ISO para a criação de uma norma internacional, o Brasil que era um membro observante dos trabalhos, a partir de 2013 passou a ser participante com direito a voto depois da fundação da Comissão Especial de Estudos de Gestão de Ativos, a CEE 251 da ABNT. Em 2014, quase simultaneamente, foram publicadas as normas internacionais e as suas respectivas normas brasileiras.
3 – Já há benefícios mensurados para as empresas?
Sim, podemos citar várias empresas que tiveram benefícios mensurados em termos de gestão de ativos.
Na Europa podemos citar, entre as principais, Scottish Power, Scottish Water, Babcock, EDF, United Utilities, National Grid Gas Transmission and Distribution, entre outras. Os principais benefícios são : redução de 20% nos custos de operação e manutenção e redução na ordem de milhões de dólares em prêmios de seguro.
Na Austrália e China, também encontramos, por exemplo, a Gladstone Power Station e a China Power que reduziram seus níveis de interrupção significativamente.
No Brasil, já temos a AES Tietê, uma empresa de geração de energia que atua no Estado de São Paulo que foi a primeira empresa da América Latina a obter a certificação em ISO 55001 e alcançou resultados surpreendentes como os custos evitados na ordem de milhões de reais e a redução do orçamento de operação, além do reconhecimento através de vários prêmios nacionais.
4 – Quais os principais segmentos que podem se beneficiar deste conceito?
A gestão de ativos pode ser praticada por qualquer empresa e de qualquer natureza , especialmente aquelas consideradas “ativo-intensivas”, cujo negócio depende da boa ou má gestão dos seus ativos, neste aspecto, destacam-se as empresas de energia, óleo e gás e infraestrutura como as empresas de transporte que são totalmente dependentes de seus ativos e exercem seu negócio em um ambiente regulado.
5 – Como foi o processo de elaboração das normas ABNT NBR ISO 55000/1/2 no Brasil?
A Comissão Especial de Estudos de Gestão de Ativos – ABNT CEE_251 foi fundada pelas associações ABRAMAN e ICA/Procobre em 2013 com a meta de elaborar as normas brasileiras de gestão de ativos.
Desde o início, houve muito interesse por parte das empresas de vários setores econômicos e desde então há mais de 60 membros na comissão representando cerca de 40 empresas. O trabalho foi realizado em tempo recorde: apenas dez meses de trabalho e as normas estavam prontas para a publicação no inicio de 2014.
6 – Como está agora o plano de trabalho da Abraman e do ICA/Procobre junto à ABNT?
Recentemente formamos dentro da comissão o grupo de trabalho do setor elétrico que estuda a elaboração de diretrizes para aplicação das normas nas empresas de energia levando em consideração a legislação e regulação do setor. Este grupo é coordenado pela CTEEP e formado por 25 empresas que atuam na geração, transmissão e distribuição de energia. A ANEEL também conta com um representante no grupo e as reuniões acontecem periodicamente.
Além deste trabalho, a comissão prioriza a questão da formação de auditores e a acreditação de organismos certificadores junto ao INMETRO para que a sociedade possa adotar as normas de gestão de ativos de maneira eficaz e com credibilidade. Outra ação que julgamos fundamental é a divulgação do conhecimento das normas e práticas de gestão de ativos, nesta área atuaremos em treinamentos como o MBA de gestão de ativos e o curso da ABNT sobre os requisitos da norma além de analisarmos a viabilidade de um portal na internet para divulgar as ações da comissão.
7 – Quais serão as ações futuras da Comissão Especial de Gestão de Ativos?
Futuramente trabalharemos para que cada vez mais as empresas sejam capazes de alcançar os benefícios da gestão de ativos, não somente quanto a melhoria do desempenho financeiro e da gestão de riscos, mas também quanto a capacidade de tomar decisões de investimentos que possam gerar novas oportunidades e aumentar a rentabilidade das empresas. Neste aspecto é importante que as empresas assegurem de forma clara a interpretação dos requisitos das normas com foco no mercado, no seu ambiente de negócio e particularmente na legislação e regulamentações próprias.
As normas apresentam os conceitos e os requisitos mínimos para a gestão de ativos, no entanto, não fornecem orientação específica sobre “como” uma organização deve alcançar a realização de requisitos. As normas também não contêm orientações específicas quanto à implantação.
Por isso as ações da comissão estarão voltadas a essas demandas dos diversos setores empresariais, a exemplo da Austrália que recentemente lançou um suplemento que orienta as empresas apresentando o que e como fazer.
O COBRE E A GESTÃO DE ATIVOS
O cobre é o metal mais utilizado em equipamentos eficientes, devido a características como condutividade elétrica, resistência mecânica, flexibilidade, resistência à corrosão e relação custo-benefício. Além disso, sua capacidade de ser reciclado várias vezes sem perda de propriedades ou desempenho faz com que seja um elemento capaz de viabilizar técnica e economicamente a gestão de ativos em empresas eletro-intensivas, contribuindo para o aumento da eficiência energética e para a redução das perdas de energia, ampliando a vida útil até mesmo sob condições mais severas durante o ciclo de vida.
Quem é a Engª Marisa Zampolli?
A Engenheira Marisa Zampolli é graduada em Engenharia Elétrica com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e Planejamento de Sistemas de Potência, pós graduada em qualidade e produtividade pela FEI e MBA em administração de empresas pelo IMT. É especialista em gestão de ativos, secretária executiva da comissão nacional ABNT CEE 251 de Gestão de Ativos, Membro do comitê internacional da ISO TC 251 Asset Management e instrutora de gestão de ativos e de gestão de energia da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Trabalha em gestão de projetos para a USAID (United States Agency for International Development), para o programa ESMAP do World Bank e desde 2009 integra o time de especialistas em energia sustentável da International Copper Association da América Latina, onde coordena o projeto de gestão de ativos no Brasil.
Saiba mais sobre a ABNT NBR ISO 55000/1/2 aqui ou se ainda não assistiu, assista ao Webinar proferido pela Eng. Marisa sobre este tema aqui