Todos os fabricantes de equipamentos para a indústria de energia eólica atualmente habilitados a ter financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) devem atingir as metas de conteúdo local exigidas pelo banco para seguir nessa lista em 2016, prazo final de um plano gradativo de aumento de nacionalização das máquinas.
A avaliação é da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o que representa um alívio para o mercado que lida com uma disputa por turbinas pelos investidores acirrada às vésperas de cada leilão para contratação de energia.
“A indústria está fazendo um esforço muito grande para atender e está atendendo, até supreendendo positivamente. Com alguma dificuldade, a indústria está vencendo esse desafio de dar conta das exigências colocadas, que no curto prazo achamos que foram razoavelmente fortes”, disse à Reuters a presidente da Abeeólica, Elbia Silva Gannoum.
Os fornecedores que atendem requisitos do BNDES são a americana GE, a francesa Alstom, as espanholas Gamesa e Acciona, a alemã Enercon e a brasileira WEG, que disse nesta semana, em nota de imprensa, ter sido a primeira a atingir as metas do banco de fomento para 2016.
O BNDES divulgou no final de 2012 um cronograma que contemplava seis etapas, ao final das quais os fabricantes devem comprovar a montagem em unidade própria no Brasil e com determinados componentes locais da “nacelle”, peça considerada o cérebro da tecnologia eólica.
A chefe do departamento de energias alternativas do BNDES, Lígia Chagas, afirmou à Reuters em entrevista no mês passado que a adequação das empresas representou investimentos de cerca de 1 bilhão de reais na cadeia de fornecedores.
“Quando foi lançada a metodologia, houve muita gente no mercado falando que não seria possível alcançar o nível pretendido (de nacionalização), mas agora notamos que não é só possível, como atraímos fabricantes de componentes que não foram exigidos naquele momento”, disse Lígia.
As mudanças tiraram grande parte da competitividade no Brasil de empresas como a indiana Suzlon, a dinamarquesa Vestas e a alemã Siemens, que não conseguiram atender aos requisitos.
Sem financiamento do BNDES, as máquinas desses fornecedores ficaram ao alcance somente de poucos grandes grupos que podem se dar ao luxo de não utilizar recursos do banco de fomento.
Com a saída de mais dois fabricantes do mercado por problemas financeiros –a argentina Impsa e a alemã Fuhrlander entraram em recuperação judicial–, a busca por turbinas tornou-se um desafio para os investidores em energia eólica.
“Não temos folga na indústria. Temos fábricas trabalhando inclusive com terceiro turno”, disse Elbia.
NOVOS INVESTIMENTOS À VISTA
A lista de fabricantes eólicos do país, no entanto, pode crescer, acredita a Abeeólica, que tem participado de reuniões com mais investidores interessados no mercado brasileiro.
“Temos dois (fabricantes) chineses que praticamente já desembarcaram no país. Um é a Sany, a número um do mundo em guindastes, e que também faz turbinas eólicas. Eles já chegaram ao Brasil e estão procurando clientes para vender sua turbina. E a outra é a Goldwind”, afirmou Elbia.
Segundo a executiva, a Sany pretende trazer equipamentos de fora num primeiro momento e posteriormente instalar uma fábrica no país, enquanto a Goldwind negocia a aquisição da Impsa, que já possui unidades industriais em Pernambuco.
Procuradas, as empresas não foram localizadas para comentar.
“Esse momento de retração do BNDES acaba dando espaço para esse pessoal. Os chineses, por exemplo, trazem junto o banco chinês (para financiar os projetos que usarão suas turbinas)”, explicou Elbia, que ponderou haver questões de competitividade e câmbio a serem analisadas pelos interessados em tais alternativas.
A Abeeólica contabiliza 17,7 gigawatts em usinas eólicas já contratadas no Brasil, que deverão iniciar operação até 2019.
A expectativa é que o setor chegue a 20 gigawatts instalados em 2020, o que representaria, nas contas da associação, uma participação de 12 por cento na matriz elétrica, contra os atuais 6,4 gigawatts, que representam 4,6 por cento da matriz, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Fonte: Reuters