A adoção, em larga escala, de projetos de smart grid, baseados em tecnologia da informação (TI) e recursos de telecomunicações para tornar as redes elétricas inteligentes, e a ampliação do mercado livre de energia no Brasil ainda dependem de modernização regulatória. O tema está na agenda do governo. Um exemplo é a Consulta Pública 33 (CP33), realizada pelo Ministério de Minas e Energia, sob o título “Aprimoramento do marco legal do setor elétrico”.
Porém, os especialistas do setor de energia apontam um longo caminho para que o Brasil tenha em larga escala projetos de medição inteligente, fundamentais do ponto de vista tecnológico para levar o mercado livre de energia ao consumidor doméstico. Heron Fontana, superintendente de Redes Inteligentes (smart grids) da Neoenergia, diz que é impossível pensar em mercado livre de energia sem a medição inteligente.
“Sem o investimento em tecnologia, não é possível proporcionar benefícios como a redução da frequência de interrupções no fornecimento de energia e o aumento da eficiência energética. A tecnologia está madura, mas o mercado local não tem escala. Na Espanha, o mercado livre de energia é realidade para clientes residenciais com 11 milhões de medidores inteligentes”, explica Fontana.
Em todo o Brasil, a Neoenergia tem três projetos de smart grid em distribuição de energia com medidores inteligentes em estágios diferenciados. O investimento total foi de R$ 172 milhões, sendo 67% próprios. O mais antigo começou em 2012 no arquipélago de Fernando de Noronha (PE), onde estão instalados 900 medidores. Em 2014, o grupo iniciou o projeto de São Luiz do Paraitinga (SP), onde há 6 mil medidores inteligentes. O mais novo projeto do grupo começou em Atibaia (SP), em 2017, onde está prevista a instalação de 73 mil medidores inteligentes.
Charles Capdeville, diretor de Engenharia da AES Eletropaulo, diz que é necessário estabelecer políticas públicas de incentivos a empresas nacionais para a produção de equipamentos e sistemas. “Na maioria importados, os equipamentos oneram processos de implantação e expansão de redes inteligentes”, diz.
Com investimento de R$ 75 milhões, a AES Eletropaulo mantém em Barueri (SP) um projeto de smart grid de distribuição que funciona com um laboratório para testar e validar tecnologias. As experiências bem-sucedidas em Barueri, onde o projeto abrange cerca de 28 mil instalações e 9 mil medidores inteligentes, deverão ser replicadas em outras áreas de concessão da AES Eletropaulo.
Os projetos de smart grid exigem ainda reforço nas questões de segurança dos equipamentos. Andre Mattos, diretor comercial para mobile e IoT Brasil da Gemalto, afirma que a segurança é um ponto crítico. Ele explica que os medidores inteligentes de última geração já incluem dispositivos de segurança que garantem a atualização remotamente e aumentam os requisitos de segurança na gestão do ciclo de vida desses equipamentos.
De acordo com Rodrigo Salim, líder de soluções digitais da divisão de Grid Solutions da GE Power para a América Latina, a ampliação do mercado livre no Brasil depende da existência de projetos de smart grid tanto na geração de energia como na distribuição, além da redução dos patamares mínimos de carga, ou os limites de acesso (tema contemplado na CP 33). De acordo com Salim, a flexibilização necessária na geração precisa ser refletida na distribuição.
“O Brasil tem desafios em relação à mudança para a tarifa horária e à eficiência da distribuição. Hoje a maneira como as tarifas são precificadas não beneficia o agente da distribuição que busca uma melhor eficiência. As geradoras acabam tendo uma flexibilidade maior”, diz o executivo da GE Power.
Capdeville destaca também o desafio de estabelecer no país uma rede de telecomunicações estável e segura, por onde uma infinidade de informações dos medidores e equipamentos de rede de distribuição trafegam até os sistemas de controles. Luis Tsutomo I, sócio especialista do setor de energia da Deloitte, afirma que, além do avanço regulatório do setor de energia, é fundamental promover a convergência dos setores de energia e telecomunicações.
“Cada dispositivo de smart grid é um ponto IP, de internet. O avanço do país nesses projetos depende de um melhor compartilhamento dos recursos de telecomunicações. O alinhamento dos ministérios de Minas e Energia e Comunicações, assim como o trabalho das respectivas agências reguladoras, é fundamental para que a sociedade se beneficie de projetos como cidades inteligentes”, explica Tsutomo I.
Fonte: http://www.energia.sp.gov.br